O Brasil está acompanhando aquela que hoje é a mais célebre policial militar baiana, Anamara Cristiane de Brito Barreira, participante da 10ª Edição do programa Big Brother Brasil – BBB 10. A presença da juazeirense no programa tem sido o principal motivo para as pessoas falarem de polícia ultimamente. Com freqüência me pedem opinião sobre a presença da PM “na casa”; o que ocorrerá, em termos legais, com ela; como a polícia militar está vendo as atitudes da moça na tevê etc.
Obviamente, não posso falar pela Corporação, função que cabe tão-somente ao Comandante Geral – ou a sua assessoria de comunicação. Porém, podemos comentar os elementos culturais que a conduta da Anamara está colocando em jogo, tanto nas polícias militares brasileiras, e não só na PMBA, como na sociedade como um todo.
A primeira observação a ser feita é que existe uma gama de profissionais, mulheres e homens, no mesmo ambiente que a soldado Anamara. É de se questionar o porquê da existência de certo sentimento de ofensa à classe policial, algo que não se observa entre os demais profissionais. Nem mesmo as Forças Armadas, “Braço Forte, Mão Amiga”, estão investindo na visão austera e pouco amistosa de outrora.
Na condenação à participação de uma policial militar no Big Brother há resquícios dos tempos em que os militares não podiam se expressar, dizer o que acham, sentem ou desejam. Me espanto quando percebo policiais femininas censurando a soldado, chegando a dizer que ela está “desmoralizando” as mulheres policiais. Na verdade, a postura deveria ser a de apoiar uma PFem que, sendo policial militar, não se abstém de manifestar suas vontades.
Para concordar com o que defendo aqui não é preciso concordar com os posicionamentos de Anamara. Concorda-se com o direito de falar, não com o que se fala. Particularmente, também tenho reservas em relação a seu comportamento pessoal, não vejo com bons olhos uma mulher que se expõe desse modo, principalmente num programa que também não vejo com bons olhos. Mas o mesmo direito que eu tenho de deixar isso claro ela tem de revelar suas vontades, como vem fazendo. Se eu posso ter um blog e divulgar minhas opiniões, ela também pode fazer isso na televisão.
A participação da Anamara no BBB veio demonstrar que somos, independentemente da hierarquia, verdadeiramente reacionários, resistentes às mudanças que às vezes apregoamos ser a favor. Uma polícia aberta, democrática e cidadã passa pela tolerância aos comportamentos de cada um, contanto que não sejam ofensivos, infracionais ou criminosos. Nada desse tipo ocorreu.
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